Exagerar nas festas de fim ano é algo comum, muitas pessoas acabam comendo mais do que gostariam nesta época, por se tratar de um período especial, onde todos se reúnem e celebram, geralmente em torno da comida e da bebida. Estes deslizes pontuais, onde a quantidade e a qualidade da comida que ingerimos é muito diferente da nossa alimentação cotidiana, são normais e fazem parte de um contexto específico. Porém hoje vamos falar de outro tipo de “exagero” na alimentação, não saudável, que é a compulsão alimentar.A compulsão alimentar caracteriza-se por um comportamento de ingestão de grandes quantidades de comida, em um espaço curto de tempo, mesmo na ausência da fome. Há uma sensação de perda de controle e a pessoa muitas vezes come até se sentir muito cheia, passar mal ou até acabarem todos os alimentos disponíveis.

Depois destes “ataques”, muitas vezes, há fortes sentimentos de culpa e auto reprovação.  Outra característica comum dos episódios compulsivos é que a pessoa come rapidamente, sem apreciar o sabor dos alimentos e, em muitos casos, o faz escondido dos familiares e amigos, como se estivesse cometendo um “crime”.

Não podemos determinar uma causa única para a compulsão alimentar. Apesar de existirem diversas pesquisas relacionando este comportamento a fatores genéticos e hormonais, as influências emocionais, sociais e familiares também estão diretamente ligadas com a compulsão. A nossa relação com a alimentação, com a aparência e com o controle alimentar é construída ao longo da vida. Recebemos, desde pequenos, informações, exemplos e estímulos relacionados à comida que podem continuar presentes na vida adulta.

Também não vamos traçar um “perfil” comum das pessoas que tem comportamentos compulsivos. Cada ser humano é único, e o sintoma também. O que podemos afirmar, de forma geral, é que a comida nos casos de compulsão alimentar ela é utilizada para dar conta de outras necessidades que não estão ligadas à fome. O descontrole compulsivo funciona como uma “válvula de escape”, que pode estar a serviço do alívio de sentimentos desconfortáveis, como a ansiedade, frustração ou até mesmo o cansaço.

A pessoa que come compulsivamente, em geral, o faz de forma solitária e envergonhada. Por isso, muitas vezes, há demora para pedir ajuda. Mas a compulsão alimentar tem tratamento, através de um acompanhamento multiprofissional. Um nutricionista pode auxiliar na reeducação alimentar para que o paciente se alimente corretamente e em horários regulares, evitando assim períodos de jejum e grandes restrições que favorecem ao descontrole. Um psicoterapeuta auxiliará na percepção do paciente das suas questões inacabadas e do que ele tenta satisfazer ou preencher através da comida. Nos casos mais graves, nos quais os episódios compulsivos se tornam frequentes e com prejuízos grandes para a vida da pessoa, um acompanhamento psiquiátrico também pode ser importante, com a administração de psicofármacos para auxiliarem o controle da compulsão alimentar.