Vocês já devem ter lido por aqui sobre o Chef Marcelo Doin e os deliciosos jantares em que tivemos a chance de experimentar a culinária vegana. Responsável pela marca Vega, o Marcelo cria pratos nutritivos e imensamente saborosos sem nenhum alimento de origem animal. Depois que o conhecemos e provamos suas criações ficamos cada vez mais interessados por essa gastronomia. Como vocês sabem não deixamos de comer carne, mas sempre que dá gostamos de experimentar restaurantes vegetarianos e veganos.
Como vocês devem imaginar, não é fácil mudar a alimentação assim tão drasticamente, cortando carne e todos os produtos de origem animal. Quando conhecemos o Marcelo fizemos mil perguntas a ele sobre como foi esse processo, como o corpo dele reagiu e quais as substituições que podem ser feitas na alimentação para quem tem interesse em mudar. E, pensamos, por que não dividir isso com vocês? Então aqui está! O Marcelo está nesse momento em Nova York fazendo uma especialização no Natural Gourmet Institute e mesmo assim contou ainda mais da sua história para a gente. Eu e Rodrigo estamos ansiosos pela volta dele e por mais jantares deliciosos. Avisa assim que chegar hein Marcelo?!
COMO VOCÊ ADERIU AO VEGANISMO E COMO FOI A SUA MUDANÇA NA ALIMENTAÇÃO?
Minha adesão ao veganismo ocorreu após ter conhecimento do que ocorre por trás da indústria da carne, com o sofrimento dos animais e o impacto dessa indústria para o meio ambiente. Percebi que a mudança que eu queria para mundo deveria começar individualmente e que uma pessoa é capaz de fazer a diferença para mudar a atual situação.
A mudança da minha alimentação se deu de forma gradual. Inicialmente retirei carnes dos porcos e das vacas, avançando, posteriormente, para as carnes das aves e em seguida dos peixes e frutos do mar. Por último, já vegetariano, percebi que a minha contribuição poderia ser maior e foi quando excluí todos os derivados de leite, ovos e mel da minha alimentação.
NESSAS DUAS MUDANÇAS COMO O SEU CORPO REAGIU? VOCÊ SENTIU ALGUMA DIFERENÇA?
Meu corpo reagiu positivamente. Quando onívoro, sofria muito com insônia e tinha enorme dificuldade em manter o peso ideal, mesmo praticando esportes com regularidade. De acordo com meu último exame de sangue, depois que me tornei vegano meu colesterol reduziu drasticamente, minha testoterona aumentou sensivelmente. E também sinto-me mais disposto e com muito mais gás e flexibilidade – condição fundamental para a prática do jiu-jitsu.
VOCÊ NOS CONTOU QUE FAZ JIU-JITSU, A SUA MUDANÇA DE ALIMENTAÇÃO TEVE ALGUM REFLEXO NA PRÁTICA DE EXERCÍCIOS?
Sim. A mudança foi brutal. Hoje, além de ter mais flexibilidade, a minha recuperação muscular é incrivelmente rápida e o grau de lesões diminuiu bastante.
QUAIS ALIMENTOS PRECISAM FAZER PARTE DA ALIMENTAÇÃO DE QUEM VAI DEIXAR DE COMER CARNE, MAS NÃO QUER SOFRER COM UMA CARÊNCIA NUTRICIONAL?
A sociedade foi ensinada que somente é possível encontrar proteínas, ferro e outras vitaminas nas carnes e nos derivados do leite. O que é um mito! Falando como Chef, pois não sou nutricionista, recomendo primeiramente a escolha de um médico e/ou nutricionista esclarecido no assunto para adaptar o cardápio de acordo com as necessidades de cada um. Porém, sugeriria como fontes de proteína alguns superalimentos como: quinoa, grão de bico, lentilha, ervilhas, cogumelos, feijões, tofu, oleaginosas (castanhas, nozes, avelãs, etc.), vegetais verde escuros e grãos integrais. O cálcio, que muitos acreditam ser encontrado somente do leite da vaca, está presente em grandes quantidade nos vegetais como couve e gergelim, este, por exemplo, além do cálcio também é rico em magnésio, elemento essencial para a absorção do cálcio no organismo. Quanto ao ferro, podemos encontrar boas fontes dos vegetais como beterraba, couve e folhas verde escuras, feijãoes, lentilhas, grão de bico, entre outros. Lembrando que para melhor absorção do ferro pelo organismo recomenda-se a ingestão concomitante de alimentos ricos em vitamina C, como, por exemplo, os cítricos e a salsinha.
QUAL A SUA PRINCIPAL DICA PARA QUEM QUER MUDAR A ALIMENTAÇÃO?
Inicialmente, recomendo que busquem um nutricionista ou médico nutrólogo. Além de tudo que já foi dito, a principal dica é permitir que o seu coração seja maior que o seu apetite. Para quem quer começar, uma excelente opção é aderir a campanha mundial da Segunda Sem Carne, cujo objetivo é incentivar as pessoas a experimentar novos sabores e perceberem como é fácil ser vegetariano/vegano, pois na prática a restrição está na mente das pessoas e não no prato.
Matéria incrível! Sou vegetariana também! 🙂
Incrível Marcelo! Parabéns! Moro no Rio, já sou sua seguidora no instagram (depois de conhecer o seu trabalho através da Beta e do Rodrigo) e gostaria muuuito de participar de um desses jantares também. Ainda sou onívora, mas pretendo trilhar o mesmo caminho que vc. Sugiro que passe a participar postando algumas receitas veganas aqui no Frango com Batata Doce de vez em quando. Vou adorar!
“após ter conhecimento do que ocorre por trás da indústria da carne”, não sei acho esse tipo de pensamento hipócrita, não vou dizer que sou um avatar de boas intensões, mas, para mim esse pensamento é degenerado. O que as pessoas deviam dizer era um simples “por que isso me agrada”.
Procurar saúde é uma coisa, agora usar isso como justificativa moral? Veganismo, Frugivorismo, essas coisas me assustam e não pela dieta, mas pelo discuso que essas pessoas usam. Mas outra vez, olhe o mundo em que vivemos. Espero que seja gostoso pelo menos.
Qual argumento seria convincente para ti? Supomos que a realidade fosse contrária, na qual o humano é dominado por outra espécie. Depois de determinado tempo de exploração, alguns pequenos grupos começassem a observar o sofrimento por trás dos confinamentos humanos e o sofrimento oculto e, assim decidissem para de consumir tal animal humano por conta do sofrimento provocado?
Camila;
Convincente? Difícil, não sei responder, mas qualquer comportamento extremo, exagerado, ou inflamado me assusta, e, pode ser qualquer coisa, politica, religião, filme, acho que não é saudável levar nenhum ideal muito longe. Eu acho que o que você quis colocar é que falta empatia nas pessoas, e isso é verdade, mas a falta de empatia é um sintoma. Se você estiver perguntando como tratar esse sintoma, eu diria que a resposta não vem do Veganismo.
Mas é gostoso mesmo?
Não só gostoso, como faz muito bem! A natureza e os seres vivos agradecem! Se alguns acham veganismo um comportamento radical, eu diria que radical é comer tripas de bois, pedaços de animais, etc, etc… É muito fácil julgar uma filosofia de vida sem ter entrado de cabeça nela. Vivemos numa cultura, que impõe certo tipo de alimentação… Agora lhe pergunto? Se você tendo nascido na Índia, por exemplo, onde comer carne é considerado algo como comer cachorro no Brasil, você viveria assustado? As coisas são muito simples, o grande problema das pessoas é não querer sair da sua zona de conforto e procurar desculpas para justificar o que está estampado para todos verem. Não é impor as pessoas ao Veganismo, é apenas um ponto a se pensar antes de criticar. Abraços