Óbvio esse título, não é? Ninguém questiona que a perfeição não existe e não devemos nos cobrar tanto. Porém, na prática o que vemos são pessoas enlouquecidas com a rotina do dia-a-dia, tentando dar conta de tudo da forma mais eficiente e próxima desse perfeccionismo inatingível. Atualmente, são muitas as demandas que temos que cumprir: ser bem sucedido no trabalho, ser culto, ter uma vida social animada, dar atenção à família, viajar pelo mundo, estar sempre feliz e, claro, se alimentar de forma saudável e ser magro e sarado. Nas mulheres essa lista é ainda maior: precisamos ter uma carreira, cuidar da casa, dos filhos, estar sempre lindas, bem cuidadas, na moda. E magras, certamente… com a barriga negativa, de preferência.

Que vivemos na cultura da magreza, todo mundo já sabe. A felicidade, para muitas pessoas, está relacionada a ter menos peso ou um menor percentual de gordura. E com uma enorme contribuição a essa idealização está a mídia, difundindo seus padrões irreais e inatingíveis de beleza. O Instagram potencializa esse processo, já que somos bombardeados em qualquer timeline com fotos de pessoas magras e felizes, mesmo fora do mundo Fit. Já falamos em outro post de como o Instagram e seus perfis fitness podem ser úteis em fornecer uma boa dose de motivação para as pessoas que querem melhorar seus hábitos. Porém eles também podem ser extremamente prejudiciais para aqueles que se cobram a mesma “eficiência” exibida nas redes sociais, mas não podem dedicar todo seu tempo para cozinhar, malhar, fazer tratamentos estéticos e etc.

Porém, não é só na preocupação com o corpo que vemos a influência da mídia, mas na disseminação de um ideal de vida perfeita. Novelas, revistas, sites e perfis de redes sociais podem criar a ilusão de que as pessoas que aparecem ali são bem-sucedidas em todas as áreas da vida, conseguem ter tudo em dia e tudo para elas dá certo. Como alcançar o padrão de beleza e felicidade que é exibido na tela se, muitas vezes, ele não é real nem mesmo para quem posou para a foto? Nas redes sociais, por exemplo, muitas vezes as pessoas postam apenas um recorte de suas vidas e de si mesmas, vistas obviamente pelo melhor ângulo e no melhor cenário. Além disso, é cada vez mais comum a manipulação dessas fotos. Observamos um uso excessivo de programas como Photoshop, com distorções que chegam próximas à bizarrice. Tudo para buscar a tal perfeição que, na vida real, afirmamos não existir.

A comparação com essas imagens – ou com a vida que imaginamos que essas pessoas famosas têm – nos afasta de nossas próprias necessidades e possibilidades. Dessa forma, ficamos sempre em desvantagem, já que na vida real e no espelho o que aparece nunca é igual ao que é visto no Instagram, por exemplo. Com isso, observa-se uma cobrança cada vez maior das pessoas em relação a seu desempenho na vida. Busca-se cumprir aquela lista de exigências que, teoricamente, nos fará igual àqueles que admiramos. Tornamo-nos cada vez mais insatisfeitos e frustrados, com dificuldades em aceitar nossa própria realidade e culpados quando cometemos “deslizes” que não estão contidos na cartilha.

A solução não está em nos alienarmos do mundo, já que a mídia e seus padrões de beleza vão sempre existir e as redes sociais são uma realidade da nossa sociedade conectada. Nos resta estarmos mais conscientes de como nos relacionamos com as imagens que somos expostos no dia-a-dia e com a nossa própria existência. Ter a si mesmo como parâmetro, aceitar seu corpo e sua vida, sentir-se bem do jeito que é e com aquilo que se tem. Isso não implica em não buscar melhorar, mas significa reconhecer os limites dessa busca quando ela traz mais sofrimento do que felicidade.